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Foi assim que o DEM e MDB enfraqueceram Bolsonaro no Congresso
02/08/2020 17:43 em Novidades

Na política, tem coisa que machuca mais do que bicada de ema.

 

Em manobra para se fortalecer para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara dos Deputados, MDB e DEM anunciaram o afastamento do chamado Centrão e, com isso, enfraqueceram a maioria que o presidente Jair Bolsonaro vinha construindo desde a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, em junho.

O primeiro efeito concreto foi o enfraquecimento do líder do Centrão, Arthur Lira (Progressistas-AL), tido como um dos favoritos para comandar a Câmara à partir do ano que vem. O nome de Baleia Rossi (MDB-SP) despontar como o mais forte para o suceder Maia.


É uma briga importante porque o presidente da Câmara muito poder: determina a agenda de votações que interessam ou não ao governo e pode aceitar (ou não) pedidos de impeachment.

Em troca da blindagem a Bolsonaro, o Centrão (formado por PP, PL e Republicanos) havia costurado uma base de sustentação, ao lado de MDB e DEM, de 221 deputados (para barrar um processo de impeachment, por exemplo, são necessários 174 votos).

O bloco sofreu uma lipoaspiração forçada para 158 após a saída formal do MDB e do DEM. Há ainda a expectativa de que PTB e PROS deixem o grupo, reduzindo a união para 136 parlamentares.

Na prática, o Centrão ficou com cargos no governo, mas não consegue garantir a maioria para o governo em pautas importantes e espinhosas, como a reforma tributária.

O apoio foi costurado com a distribuição de cargos do Executivo, como a indicação de Fábio Faria (PSD-RN) para o ministério das Comunicações, do ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira (PP-PI) Marcelo Lopes da Ponte para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), além de vários postos no segundo-escalão.

Mas, apesar dos acertos, esse centrão e base de Bolsonaro não entregou o que prometeu até agora, sofrendo inclusive derrotas importantes, como no caso do Fundeb, que teve a proposta original (e não a do governo) aprovada por 499 dos 513 deputados.

Além de não conseguir viabilizar a aprovação de projetos, o racha ainda tirou o número do grupo, que dava um ar de força para Bolsonaro.

Neste cenário, partidos da oposição, de olho em vagas na Mesa Diretora, já admitem apoiar o indicado por Maia para sua sucessão e, partidos independentes, como o PSDB, seguiriam o mesmo caminho, formando um grupo que contaria com os tucanos, com o PT, PC do B, PSB, MDB, DEM, PDT e Cidadania (só aqui somando 223 deputados), além de outros que devem se unir ao longo das negociais para a presidência da Câmara.

Além de Baleia Rossi, no grupo de Maia o nome do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), também aparece como uma das opções.

O problema é que ele é bispo licenciado da igreja Assembleia de Deus e grande parte dos deputados não quer ver o plenário da Câmara sendo ocupado para a discussão de pautas de costumes num cenário de pandemia, mas sim o seu combate e propostas que viabilizem alguma retomada da economia.

Além disso, fora do grupo bolsonarista, que está em guerra com a Rede Globo, os demais deputados entendem que a emissora é forte e importante para dar visibilidade aos seus mandatos, tendo dúvidas em relação à Record, hoje alinhada com Jair Bolsonaro e consequentemente a Pereira.

Há também um entendimento que Rossi possui um trânsito político melhor que Pereira, tanto entre parlamentares quanto entre os governadores.

As eleições para a Mesa Diretora da Câmara acontecem no início de fevereiro do ano que vem, e, com exceção de Lira, os demais candidatos, pessoalmente, estão evitando qualquer alarde ou articulação de maior envergadura nesse momento.

Seguem, inclusive, uma orientação do próprio Rodrigo Maia, que pediu cautela e certo silêncio para quem quiser ser seu sucessor.

Na Câmara, a avaliação é este gesto de Maia faz com que ele seja o principal articulador, mantendo a sucessão em suas mãos, e consiga exercer grande influência sobre quem vier a ocupar sua cadeira.

Fonte:https://www.buzzfeed.com/br/severinomotta/foi-assim-que-o-dem-e-mdb-enfraqueceram-bolsonaro-no

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