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Paixão política se parece, mas não é a mesma do futebol
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Publicado em 13/05/2020

Última pesquisa da CNT/MDA (Confederação Nacional do Transporte/Instituto MDA) divulgada nesta terça-feira, 12, mostra um aumento significativo da reprovação ao governo Bolsonaro. A avaliação ruim e péssimo passou de 31%, em janeiro, para 43,4% em maio, um acréscimo de 12,4%, na soma desses resultados.

 

Entre os que responderam ótimo e bom os números oscilaram pouco. A soma dos dois era 34, 5% em janeiro e passou para 32,1% agora, comparando os números das pesquisas deste instituto.

 

A redução no número dos que consideram o governo regular — que era 32,1% em janeiro e passou para 22,9% em maio — foi a principal responsável pelo aumento da reprovação. Esse deslocamento significativo poderá influenciar mais pessoas, a depender do desempenho do próprio governo. 

 

E, ao que tudo indica, a tendência é a situação caminhar nesta direção, pois o governo e seu líder, o presidente Bolsonaro, estão convictos na cruzada contra as ações da saúde pública para deter o coronavírus. E a situação da pandemia no Brasil segue se agravando.

 

Muita gente tem uma relação com seu voto parecida com a relação apaixonada de torcidas por seus times de futebol. 

 

Após as eleições, quando vota em um candidato que veio a ser derrotado, o cidadão costuma revelar que perdeu o seu voto, assim como se saísse de uma partida de futebol em que seu time foi massacrado. Esquece programa, propostas e as qualidades do candidato que escolheu só pelo fato deste ter sido derrotado, considera seu voto perdido.

 

Mas, quando vota em quem venceu, quando “ganha o voto”, a paixão é renovada, o peito se enche de orgulho, e mesmo diante de uma negação de promessas, programa, propostas essa paixão não se abala. “Que nada! É conversa e despeito da oposição!”

 

Já viu uma torcida, das grandes às pequenas, abandonar seu time após uma derrota em um campeonato? Mesmo esse time tendo seguidas apresentações desastrosas?

 

A diferença é que no futebol temos tempo para respirar entre uma partida e outra; certo, no intervalo tem a zoação dos amigos, mas isso faz parte do jogo; enquanto na vida existe um lugar em que a paixão política pode ser abalada e até mesmo evaporar feito o aroma do perfume que ajudava a compor os belos momentos. 

 

Este lugar é o bolso, onde nenhuma paixão política, por um governo, é capaz de perdurar se a realidade econômica for cruel. Pelo simples fato do cidadão não ter como esquecer o nome do responsável por sua penúria.

 

Além do econômico, outros motivos, ainda que imprevisíveis, podem abalar uma paixão política. Por isso mesmo que é sempre muito arriscado brincar com a dor das pessoas, uma palavra de conforto sempre vale muito diante de uma realidade cruel. 

 

Num momento assim, um “e daí?!” pode crivar de mágoas corações apaixonados.

 

Brás Rubson — sociólogo e cartunista

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