Moro agora representa a si próprio, momentaneamente não está em nenhum posto de poder. É um ex-juiz e um ex-ministro, em ambos os casos alçado em algum momento a poderes maiores do que o próprio cargo ocupado.
Estaria o rei nu?
Nem tanto, há ainda por trás de seus movimentos uma onda de simpatia e veneração. Tem amigos no Judiciário, no Ministério Público, no empresariado e principalmente na mídia. É candidato a ser ungido como opção da direita para suceder Bolsonaro.
Nos cálculos políticos de qualquer projeto eleitoral, a primeira pergunta é: de onde viriam os votos?
Pode haver dois líderes políticos da direita extremada disputando, mas não haveria votos para o sucesso de ambos. Divididos, correriam o risco de nenhum ir para o segundo turno, de perder a vaga para um moderado de centro, por exemplo.
Daí o dilema vivido pelos dois: em 2022 só haveria votos para o sucesso de um. Moro tem que ser a negação de Bolsonaro e Bolsonaro tem que ser a negação de Moro.
Moro levou seu prestígio lavajatista para o governo Bolsonaro, misturou os seus com os do capitão, e agora, na hora da separação, parece que mais deixa do que tira – é o que mostram as últimas pesquisas.
Se os dois seguirem com seus planos eleitorais, a tendência é a temperatura do confronto subir muito, pois o sucesso de um impõe o desastre do outro.
Por isso, o cálculo político de Bolsonaro foi o de abater Moro de saída, ao expelir ele de seu governo.
Mas o cálculo de Moro também pode ser o mesmo, abater Bolsonaro de saída ao depor por oito horas contra o capitão.
Por outro lado, uma guerra muito intensa pode deixar sequelas e tirar energia dos dois para o embate eleitoral.
Vamos conferir.
Brás Rubson — sociólogo e cartunista