Collor, alvo de impeachment em 1992, diz que esta é a pior crise que já viu na vida
"Lamentável que tenhamos chegado a esse ponto", disse o ex-presidente, que renunciou para evitar cassação, à Rádio Gaúcha.
Mauro Albano
Editor-assistente, BuzzFeed News, Brasil
O senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL), que foi alvo de um pedido de impeachment quando ocupava a Presidência da República e renunciou em 1992 antes da decisão do Senado, disse nesta sexta-feira (24) que nunca viu em sua vida uma crise política como a vivida pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
"É a mais grave crise institucional que eu já presenciei na minha existência", disse Collor em entrevista à Rádio Gaúcha, comentando o anúncio de Sergio Moro de que tinha se demitido do Ministério da Justiça.
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Bolsonaro no pronunciamento em que respondeu às acusações de seu ex-ministro Sergio Moro, em 24 de abril..
Moro – que era considerado, junto com Paulo Guedes (Economia), um dos superministros de Bolsonaro – anunciou sua demissão na manhã de hoje, em um pronunciamento com umasérie de acusaçõescontra o presidente: disse, entre outras coisas, que Bolsonaro quer acesso a relatórios de inteligência e a inquéritos em andamento.
"Lamentável que tenhamos chegado a esse ponto", disse Collor à Rádio Gaúcha. "São denuncias muito graves", afirmou. Na opinião de Collor, o Brasil vive "uma crise institucional criada pelo próprio Palácio do Planalto".
Collor foi alvo de um processo de impeachment por conta de denúncias de corrupção. Renunciou em dezembro de 1992, antes da conclusão do processo, mas foi condenado pelo Congresso à perda dos direitos políticos por 8 anos.
Na entrevista, foi questionado se enxergava a possibilidade de Bolsonaro também enfrentar um processo de impeachment.
"A saída dessa crise é pela via política. É somente através do diálogo e da articulação política", disse Collor.
Julio Pereira / Getty Images Collor (à direita) em julho de 1992, quando era o presidente da República
"Essa crise institucional causa a ingovernabilidade, ou seja, a falta de instrumentos mínimos para quer o governo possa funcionar, sobretudo num momento em que estamos vivenciado uma guerra contra um inimigo invisível, que é o coronavírus", continuou o senador.
Mas isso pode levar a um processo de afastamento? "Não há nenhuma possibilidade em um regime presidencialista, dentro de um regime democrático, de um governo se manter sem que tenha no Congresso uma base parlamentar que lhe dê sustentação política", disse Collor.
